quinta-feira, 6 de maio de 2010

PORQUE ESTUDAR?

Temos o prazer de conviver com uma pessoa especial, que é o professor Daniel. Que “cara cabeça”, entre muitos textos criados por ele, um chama muito a atenção de quem o ler.
Conversando com o professor Daniel sobre este texto, ele nos diz porque o escreveu:

“Ouço ou sou freqüentemente questionado sobre a importância de estudar. Será que “nossos” alunos não possuem mais o prazer pelo aprender? Não desejam mais construir ou participar na construção de nenhum conhecimento científico? Ou interar-se do conhecimento sócio-historicamente construído pelo ser humano? Será que ele só vai a escola para comer a “merenda” ou apossar-se de um certificado de conclusão de algum curso?
Nas conversas com alunos ou com meus colegas de trabalho visualiza-se uma situação, até certo ponto assustadora, que a sala de aula não é mais atrativa, porém a escola ainda é. Isso pode ser entendido de diversas maneiras: uma é que a forma que os alunos recebem de seus mestres os conteúdos, apresenta-se inerte ou ineficaz às perspectivas dos mesmos; outra que a escola não acompanha a evolução tecnológica que a globalização do conhecimento impõe, no entanto é atrativa pela socialização, entenda-se aqui: “azaração, paquera, flertes, etc”.
A falta de perspectiva, uma vez que a escola não se formata, hoje, como caminho de ascensão social, desestabiliza a estrutura tradicional de ensino; “Enquanto o professor e a escola não reencontrarem o sentido fundamental de sua missão, a crise perdurará (Morin, 2001), e conseqüentemente não nos encontramos como formadores da cidadania, pois os valores que a formam distanciam-se do cotidiano escolar.
Sobre isso é bom lembrar que a escola se vê rodeada de direitos de todos e, em alguns casos, não dos seus, cabendo a ela somente o cumprimento dos seus deveres. Na mídia vêem-se reportagens de violência contra professores e demais profissionais das escolas. Sem que nenhuma providência legal seja “tomada”, nenhuma que saibamos. No capítulo de uma novela, em horário nobre, o desrespeito pela prática pedagógica e pelos praticantes dela, ficou evidente quando um pai orientou seu filho, que cometera infrações no interior de uma escola, a mentir.
Penso que os direitos devem ser observados, porém, esquecem que existem deveres a serem cumpridos, e que a essência da escola é ensinar e não educar: “Ensinar – transmitir conhecimento; ministrar o ensino de. ≠ Educação – ação ou efeito de educar (-se); bons modos; cortesia; polidez.”, mais que isso seja outra discussão.
A escola contribui para a construção da humanidade, mas é imprescindível lembrar que “conhecer é um impulso como que natural e instintivo no sentido em que ele brota espontaneamente, confundindo-se, na sua origem, com o próprio impulso da vida (Severino, 1992: 19).” O sentido do estudo, portanto, passa necessariamente pelo engajamento da escola com o processo de transformação dos sujeitos, bem como das relações sociais (injustas, excludentes) que permeiam nossa realidade, e do quadro de valores que sustenta tais práticas, abrindo novos horizontes para a radical humanização. Partindo da premissa do homem como ser de relações (com a natureza, com os outros, consigo), a transformação deverá dar conta de todas as dimensões da existência. (Vasconcelos, X Congresso de Educação - UnC)”.
Um caminho a ser seguido, poderá ser: “Os alunos, desde cedo, precisam ser ajudados a construir um sentido para o estudo; entendemos que este sentido passa pela tríplice articulação entre compreender o mundo em que vivemos (necessidade de viver num mundo que faça sentido), usufruir o patrimônio acumulado pela humanidade (poder participar das conquistas histórico-culturais) e, sobretudo, transformar este mundo, qual seja, colocar este conhecimento a serviço da construção de uma realidade melhor, mais justa, solidária e plena (omnidimensional). A escola, aliada a outras instâncias sociais, deve ajudar na criação da consciência a respeito da realidade, de tal forma que seja possível identificar o vasto espectro de problemas que permeia a existência humana e propor soluções historicamente viáveis. É claro que esta tarefa não é absolutamente fácil no atual contexto. Este empenho do educador tem a ver com o enfrentamento da alienação: é um embate de perspectivas, de sentidos para o conhecimento e para a vida (cf. Vasconcellos, 2000a: 56).
Alguns teóricos defendem que a escola necessita ensinar contextualizada e significativamente, observando a realidade dos seus, bem como da sua comunidade, propondo interação interna e externa a ela, e outros apontam para sua habilidade em identificar e trabalhar com as inteligências múltiplas dos alunos. Observe: “Howard Gardner, psicólogo da Univ. de Harvard, propõe “uma visão pluralista da mente”, ampliando o conceito de inteligência única para o de um feixe de capacidades, dividindo em 7 diferentes competências que interpenetram, pois sempre envolvemos mais de uma habilidade na solução de problemas.
Inteligência Verbal ou Lingüística: habilidade de quem faz uso corrente e fluido da linguagem. Para a liderança é sempre importante a comunicação e, o domínio desta inteligência, significará maior desenvoltura na disseminação da informação.
Inteligência Lógico-Matemática: capacidade para solucionar problemas envolvendo números e demais elementos matemáticos; habilidades para o raciocínio dedutivo. Uso do racional como elemento norteador das ações. Ex. para o gerenciamento o uso desta habilidade no desenvolvimento de estratégias, na avaliação de planos e na análise imparcial de dados e fatos significativos para o negócio, o que influencia na qualidade de sua tomada de decisão.
Inteligência Sinestética Corporal: Domínio do corpo e do movimento. Na empresa o deslocar-se, movimentar-se nos vários contextos empresariais, conhecer as diversas realidades.
Inteligência espacial: noção de espaço e direção. No comando sua importância na ocupação de espaços de forma assertiva e deixar espaços para o crescimento dos colaboradores.
Inteligência Musical: habilidade daqueles que são traídos pelo mundo dos sons. Respeitar ritmos (dos outros e os próprios), perceber os diversos tons das pessoas, tornarem o ambiente harmonioso e motivado. (orquestra e organização)
Inteligência Interpessoal: compreender os outros. Aceitar e conviver com o outro. Entender e tratar outras pessoas com sensibilidade e de influir em seus comportamentos.
Inteligência Intrapessoal: é o relacionamento consigo mesmo, autoconhecimento. Habilidade de administrar seus sentimentos e emoções a favor de seus projetos. É a Inteligência da auto-estima. Consciência do próprio potencial. O autoconhecimento conduz ao desenvolvimento pessoal todas as outras inteligências são influenciadas pela intrapessoal. O que exige autodisciplina e perseverança.
Goleman acrescenta mais duas inteligências; a pictográfica que é a habilidade de transmitir mensagem pelo desenho que faz, e a naturalista que é o sentir-se um componente da natureza.
Daniel Goleman acrescenta: ”que a chave para um alto QI de grupo é a harmonia existente entre os membros que o compõem. É essa capacidade de harmonizar que, mantida a igualdade de condições em tudo mais, tornará um grupo especialmente talentoso, produtivo e bem sucedido, e fará outro - com membros de talento e habilidade iguais - se sair mal”. “Um dos principais fatores para a maximização da excelência de um grupo está no quanto os participantes são capazes de criar um clima de harmonia interna, de forma que o talento de cada um seja aproveitado”. Dessa forma difundi-se hoje que uma das condições para o sucesso é a capacidade de trabalhar em grupo.
O trabalho em grupo perpassa pela avaliação como: para Sandra Bozza (X Congresso Nacional de Educação – UnC) “Para educadores/as com senso ético aguçado e comprometidos com a promoção humana do ponto de vista da apropriação dos bens culturais, refletir sobre avaliação é pensar intrinsecamente no processo ensino-aprendizagem. Todavia, discutir aprendizagem pressupõe a assunção de uma posição política e a opção por uma concepção sobre desenvolvimento humano que dê conta deste caráter de seu desenvolvimento como sendo eminentemente social. “O que implica estudos e discussões sobre o processo sócio-histórico do ponto de vista ontológico e filológico” (OLIVEIRA, 1993, p. 15). Em nosso entender, isso significa que é impossível produzir conhecimento científico sobre o quesito avaliação, sem contrapor esse processo às questões sociais que interferem profundamente nesse aspecto. Ou, nas palavras de Esteban (2001) “a reflexão sobre a avaliação só tem sentido se estiver atravessada pela reflexão sobre a produção do fracasso/sucesso escolar no processo de inclusão/exclusão social” (p.7).”.
Com isso se atribui, na maioria dos casos, ao fracasso escolar as condições sociais do aluno, porém segundo Marcel Poustic (1995) “Os alunos encontram na aula dificuldades muito diferentes, e fala-se muitas vezes nas causas sociológicas dessas desigualdades. Mas é bem raro que se fale no papel que a própria escola e o professor desempenham para essa diferenciação, nesta relação pedagógica (p.13). Vê-se que conteúdos referenciais que determinam a apropriação de outros mais complexos, quando não assimilados pelos alunos, são retomados sem que haja a diferenciação das estratégias metodológicas.
A “recuperação paralela” deveria ser entendida como recuperação do conteúdo não apropriado e as notas se tornarão melhores em conseqüência do discernimento do conteúdo em questão. Fazer com que o aluno refaça a prova não se formata na reconstrução dos conceitos, uma vez que o processo de construção não foi eficaz. Novos caminhos devem ser elaborados com estratégias transparentes.
Deve-se entender que a atuação dos profissionais do ensino é passiva de reestruturação e da busca de novos caminhos e de caminhos produtivos que efetivamente consolidem o processo de ensino-aprendizagem. Para Bozza “ Faz-se necessário chamar a atenção para esse fato no evento, pois nossa intervenção pretende ser um ponto de partida para a construção de um contributo para que o ensino ocorra como uma ação que ultrapasse as barreiras pedagógicas, mas que se atenha, sobretudo, à sua ação político-social. Afinal, que tipo de vínculo sócio-afetivo há na relação professor/a x aluno/a quando do processo da aquisição do conhecimento? Isto é, que compromisso político se esconde atrás do ato de ensinar a ler, a escrever e a pensar? A serviço de quem está o trabalho do professor/a? Sua prática é direcionada para a construção de uma sociedade mais justa e equânime ou sua alienação em relação às mazelas sociais impedem-no/a de reconhecer o poder de sua atuação?”
Como professor, não há muito tempo, acredito verdadeiramente na importância do estudar e da escola, fato que ainda me mantém na condição de aluno, não do prisma alavancador de uma pseudo ascensão social, mas nos benefícios que nos traz para o crescimento intelectual, tendo como alicerce a própria história da evolução humana. Na minha concepção para chegar a algum lugar é imprescindível que se saiba de onde parti, quando e onde tudo começou.
Não posso apresentar-me como mero espectador nesse processo, fazendo de conta que o problema não é meu, que estou fora dele, que minhas ações não interferem na construção de algumas páginas da história dessa evolução, que elas não podem desencadear traumas irreversíveis naqueles que me ouvem e tem a expectativa de aprender, pois acreditam que como especialista na área saiba o que estou fazendo.
Portanto, para que estudar? Para ser alguém na vida, claro que não, devo estudar para me construir como agente transformador de um mundo, por menor que ele possa ser.
Referências Bibliográficas

BAKHTIN, M. (1988). Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec.
ESTEBAN, M.T. (org.). (2001) Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos. Rio de Janeiro: DP&A.
LUCHESI, C.C. (1995). Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. São Paulo: Cortez.
OLIVEIRA, M. K. (1993) . Vygotsky - aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione.
PARANHOS, Neri – X Congresso Nacional de Educação, UnC, Caçador, 2004.
PERRENOUD, P. (1999). Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens. Entre duas lógicas. Porto Alegre, RS: Artmed.
POUSTIC, M. ( 1995). Para uma estratégia pedagógica do sucesso escolar. Porto; Porto Editora.
VASCONCELLOS, Celso S. Coordenação do Trabalho Pedagógico: do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula, 4a ed. São Paulo, Libertad, 2003a.
VASCONCELLOS, Celso S. Para onde vai o Professor - resgate do professor como sujeito de transformação, 10a ed. São Paulo: Libertad, 2003b.

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